Numa época não muito distante eu trabalhei em
Porto Seguro, BA. E numa oportunidade pude visitar tanto uma Delegacia Policial
de Coroa Vermelha quanto um escritório do IBAMA vizinho da mesma delegacia.
O escritório do IBAMA era uma beleza. Todo
moderno, bem decorado, ar-condicionado, computadores pra todo lado, funcionários
uniformizados, sala de espera confortável e bem iluminada com revistas e
bebedouro a disposição dos visitantes, etc., etc.
E a Delegacia? Bem a Delegacia estava adaptada em
um imóvel que tinha sido uma residência. Na frente o que foi um dia um jardim
era mato somente. Pela lateral da casa onde seria a garagem estava estacionada
uma viatura policial aos pedaços. Internamente moveis velhos, paredes mal
pintadas, tudo arcaico e mal iluminado. Funcionários tão amarrotados como quem
acabou de acordar. Durante a conversa com o atendente de plantão fiquei sabendo
que havia rodízio para usar o vestiário que era um só. Sim, policiais
masculinos e femininos precisavam dividir os mesmo espaço para higiene pessoal
e troca de roupa.
O atento leitor já percebeu onde quero chegar não
é?
O que temos então é que duas repartições publicas
e, portanto a serviço da população recebem por parte das autoridades verbas e
tratamentos desiguais. O IBAMA como todo mundo sabe dedica-se a políticas
ambientais, proteção de fauna e flora, etc. A Policia como todo mundo também
sabe cuida da segurança publica e, grosso modo, da integridade física de seres
humanos. Sendo estes ultimos, embora nem todo mundo se dê conta, tão necessários para a manutenção da Vida, quanto todos os demais seres vivos.
A diferença física e de funcionalidade entre
ambos os lugares é um reflexo de uma visão pretensamente moderna da sociedade. Modernidade essa que estranhamente não coloca os humanos tão centrais nos debates como são os passarinhos e os rios.
Somos capazes de passarmos horas e horas admirando a beleza natural de nosso Planeta sem incluirmos o Homem tambem dentre essas maravilhas.
Vivemos tempos em que debatemos com profunda
seriedade as condições do meio ambiente e a necessidade de preservá-lo. Junto a
esses debates somam-se tantos outros também fundamentais como a defesa das
minorias, o fim das desigualdades, fome, miséria, direitos humanos, etc. Esses
debates todos dão ares de avanços importantes no modo humano de viver. Mas são
somente ares. Pois são debates inacabados. Debates que, a depender da força e
da importância dos envolvidos - ou se preferirem do interesse e do dinheiro
-, superam-se ou eliminam-se mutuamente.
Um exemplo disso estamos presenciando estes dias.
A mídia nos fez o desfavor de pinçar uma frase do Ministro da Justiça,
retirando-a do contexto da conversa que era sobre pena de morte, e
pegando essa frase tornou-a política ou ideológica e fazendo isso, ao mesmo
tempo em que impede o debate mais profundo sobre o assunto, decreta a morte da
questão já para os próximos dias. O debate - necessário e indispensável -
sobre as condições carcerárias no Brasil vai durar o exato tempo que levar para
surgir outra declaração polemica de outro Ministro.
Se pudéssemos olhar bem de longe todos esses
debates e colocá-los lado a lado veríamos linhas sinuosas subindo e descendo
como em um gráfico e que poderiam servir para demonstrar que as ações que temos
voltadas para o fim das desigualdades ou de proteção ambiental são, elas
mesmas, desiguais entre si.
O que temos é uma ciranda de prioridades, um toma
e retoma de assuntos que acaba por confundir as possíveis soluções e que
resultam impossíveis de serem aplicadas.
Meu pensamento é que a chave para a solução de
todos os assuntos que envolvam vidas humanas e os cuidados com o Planeta Terra,
já foi anunciada há dois mil anos atrás: amai-vos
uns aos outros.
Não há solução fora do amor. Mesmo que isso
signifique rever toda estrutura montada pelo homem para a sua própria sobrevivência,
é preciso lembrar que uma parte enorme dessa estrutura não foi construída com
amor: desperdício de alimentos mundo afora, exploração sem descanso dos
recursos naturais, pouca ou nenhuma importância dada a Historia do Homem sobre
a terra, sistemas penais, educacionais, laborais, de lazer, arte, cultura, tudo
enfim, bem poucas coisas até agora levaram o Homem à sua plenitude.
Já sabemos mensurar e cobrir com certa facilidade
a distancia entre a Terra e Marte, mas ainda não sabemos cobrir a distancia de
um abraço.
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