Já sei que vou escrever aqui algumas obviedades,
mas acredito que desprezar o óbvio é esquecer as coisas importantes das quais
se diz que são óbvias. Melhor dizendo, ao fugir de dizer coisas que se pensa
que todo mundo já está cansado de saber muita coisa acaba caindo no
esquecimento. Então acho que praticar o óbvio também pode ser útil.
Então chega desta óbvia encheção de linguiça e
vamos ao mais óbvio ainda.
Caminho no Parque do Carmo todas as manhãs e faço
o mesmo que a multidão de outros caminhantes que estão por ali indo e vindo
pelo mesmo trajeto, as mesmas curvas, as mesmas alamedas e a mesma
direção todos os dias.
O Parque do Carmo é um parque bonito como são
bonitos quase todos os parques. E junto com o beneficio físico que me dou ao
fazer uma caminhada, aproveito e distraio os meus olhos com a paisagem de beleza
imaginável de um parque.
Porém hoje eu acordei a fim de uma revolução e,
na falta de algo muito espetacular para mudar, resolvi experimentar fazer o
caminho inverso que faço todas as manhãs no parque. E fui por onde costumo vir
e vim por onde costumo ir.
E comecei a observar, com alguma surpresa, outros
ângulos do parque, uns recantos bonitos com cores e arvores que eu não tinha
notado antes e de repente meus olhos estavam fazendo festa. Dei-me conta de que
aquelas emoções iniciais que eu sentia nos primeiros dias em que comecei a
caminhar por ali, já não eram as mesmas. As coisas não me sacudiam mais do
mesmo jeito. A observação diária das mesmas paisagens já não fazia o mesmo
efeito. Foi preciso eu mudar o trajeto para perceber isso.
E daí a começar imaginar sobre valores,
ideologias, crenças e tudo o mais foi um pulo.
Pensei que um dos motores que nos impulsionam
vida afora são nossas crenças e valores. E é falando delas que nos damos a
conhecer e identificar. É através delas que nos posicionamos no mundo, que
temos atitudes e todas as suas consequências como entusiasmo, garra, ou indignações
e até mesmo paixões.
Mas mesmo o nosso discurso sobre valores e
crenças quando muitas vezes repetido da mesma maneira, com as mesmas palavras, nos mesmos
momentos, acabam se perdendo numa rotina que pode diminuir sua ênfase e seu
objetivo. Nos tornamos repetitivos, cansativos e maçantes.
Então mesmo que se mantenha o conteúdo é bom dar
uma sacudida na forma, é bom se portar de maneira diferente. É bom dar
oportunidade de ser ver as mesmas coisas, mas de outro angulo.
De agora em diante fico atento: quando eu começar
a adivinhar até mesmo quais os passarinhos que estão na próxima curva de alguma
alameda do parque eu mudo de trajeto. Não que eu não queira vê-los mais, pelo
contrário, quero sim continuar a nota-los, mas prestando atenção no que estou
fazendo.