domingo, 30 de dezembro de 2012

Tudo que move é sagrado.

Milton Nascimento na música Índios canta em um de seus versos: " abelha fazendo mel, vale o tempo que não voou", e mais adiante: " ... o fruto do trabalho é mais que sagrado meu amor, a massa que faz o pão vale à luz do seu suor".

Versos lindos. E que nos chamam a refletir sobre o real valor de tudo que nos cerca  e sobre nós mesmos.

Sempre que ouço falar em sustentabilidade ouço a palavra economia atrelada. O discurso habitual é: economize água, ou luz, ou petróleo, ou tudo o mais por que um dia vai acabar. Tratemos de replantar as árvores que podamos, é a recomendação mais comum. Isto pode não ser um equivoco completo, mas é pelo menos um equivoco parcial.

É fácil imaginar que tenhamos nos acostumado a chamar de fruto, sem a devida reverencia, aquela coisa que vez ou outra fica pendurada nas árvores como as laranjas e as jabuticabas.

Devemos sempre lembrar que frutos são isso sim, a transformação de todas as coisas. É a Vida em movimento. Em uma alternância ao mesmo tempo tão complexa e simples, tão extraordinária quanto singela. Tudo uma hora é fruto e outra hora é semente, em um ciclo que experimenta sem parar a perfeição da Vida. E dele não somos meros observadores, mas agentes.

Sustentabilidade poderia ser o mecanismo com que devemos reverenciar a Mãe Terra e toda Vida que há nela.

Sustentabilidade pode ser quem sabe o entendimento de todo a cadeia de produção na Vida tendo nós humanos no meio dela. 

Economizar os frutos não no sentido financeiro, mas no sentido da parcimônia e sobriedade é indispensável. Evitar desperdícios dos frutos não para o acumulo do que nos é dado, mas pensando em partilhar com quem não tem. Estes sim são os significados de sustentabilidade. 

Mas atentemos: partilhar com alguém agora, não com hipotéticas gerações futuras
 
Cada vez que sou avarento e acumulo mais do que preciso, ou então ao contrário, sou um perdulário acabo privando alguém de alguma coisa e, acima de tudo, desprezando o trabalho que foi feito por mim e para mim.

Cada vez que visto uma roupa, que aperto um botão e a luz acende, que tomo um remédio e curo a minha dor, ou quando provo os mil sabores dos frutos da Terra, devo lembrar que por trás disso tudo existe uma cadeia imensa de trabalhos que não podem ser desprezados com meu esquecimento de reverenciar tudo que se move sobre a Terra.

Se eu esqueço, como diz a musica de Milton, que a abelha não voou para produzir o mel ou que o homem derramou seu suor para produzir o pão, sou ingrato comigo mesmo e autorizo à Mãe Natureza que esqueça também do meu trabalho e dos frutos que produzo.

Que o ano novo que vem aí, venha também com nosso maior respeito pela Vida e com a justa valorização e reverencia por tudo que é produzido seja das sementes que viram frutos seja do suor do homem que realiza trabalhos.

Feliz ano novo e fiquem em paz.














domingo, 23 de dezembro de 2012

Rock baby.

Os Beatles tocando o melhor do seu rock`n`roll. Esta música fantástica de Paul McCartney, no estilo de Long Tall Sally, foi lançada originalmente em 23 de julho de 1965 como lado B de Help! e incluida no album do mesmo nome. A gravação foi concluida em sete tomadas e se desenrola num andamento incrivel, com Paul berrando a letra em verdadeiro estilo Little Richard, acompanhado pelas marteladas de John no órgão Hammond. Paradoxalmente, esta gravação foi feita na mesma sessão que rendeu Yesterday.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Rock. Simples, porém rock.

Os Beatles nunca perderam o gosto pelo bom e velho rock´n´roll; aqui ele embarcam em uma jam session, com Billy Preston ao orgão, na qual tocam classicos que fizeram a fama de Little Richard, Joe Turner, Bill Haley, Carl Perkins e, por fim, mas não menos importante, Elvis Presley.

Gravado em 26 de janeiro de 1969 no Apple Studios, Londres.

 




sábado, 15 de dezembro de 2012

She´s A Woman

Gravado como lado B do single I Feel Fine, She´s A Woman é um delicioso e sincopado rock`n`roll que tem Paul mostrando seu melhor estilo roqueiro.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Obrigado pela árvore, Rita



Obrigado pela árvore, Rita.

Já faz algum tempo que temos passados dias difíceis aqui em casa tudo por causa de meu desemprego que já vai demorando mais que o normal, fazendo com que vivamos coisas fáceis de imaginar.

Para falar de mim mesmo, penso que não há nada pior na vida de um sujeito que essa sensação de inutilidade causada pelo desemprego em especial por vivermos nesse modelo consumista de sociedade que às vezes parece resumir nossa felicidade na posse de coisas. Além disso, está impregnado em todos nós que trabalhar – de maneira remunerada é óbvio – tem a ver com dignidade, caráter e por aí vai.

E não há como dizer que o stress causado por pensar essas coisas fica apenas no campo material , na verdade acaba atingindo  também campo emocional causando curto circuito em relações tão estáveis como a minha e da Rita que daqui um pouco vai completar 39 anos.

Volta e meia vem aquela vontade quase impossível de conter e que faz querer chutar todos os baldes, dizer todos os desaforos e mandar tudo para aquele lugar que só não digo o nome em respeito às crianças e aos velhinhos que eventualmente me leiam. 

Mas sabem daquele ditado que diz que a depender do ponto de vista, se pessimista ou otimista, pode-se dizer que um copo está meio vazio ou meio cheio?  Pois bem eu o adaptei e troquei a analogia das circunstancias com um copo por um queijo. Na vida, tem gente que vê apenas os buracos do queijo e nunca o queijo. E o esforço que faço todos os dias é ver cada vez mais o queijo, e cada vez menos os buracos.

E essa semana a Rita me deu um queijo. Um queijo em forma de arvore de Natal. Está ali montada no canto da sala, pequena no tamanho, mas gigante no significado.

Costuma ser nessa época do ano que a tal da baixa estima se manifesta mais fortemente.  Aliás, a impressão que se tem é que a nossa estima pode ser medida por nossa capacidade de comprar! Afeto, solidariedade, fraternidade tudo, de repente, vira coisas embrulhadas em papéis coloridos.

Ainda bem que tem a árvore de natal.  Pois entre as muitas historias que se contam  sobre o surgimento da tradição de enfeitar árvore está uma que diz que antes das tradições cristãs enfeitavam-se pinheiros às vésperas da primavera, uma estação que era – e ainda é - entendida como sinal de ESPERANÇA. A primavera retornando trazia a vida de volta.

E peço licença a Rita para dividir com todos vocês um pedaço da árvore que ela montou. Pois quero dizer que junto com a Rita, meus filhos e minha família, estão vocês, meus amigos, que de um jeito ou de outro também me ajudam a manter viva a esperança de que tudo vai passar.


quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Los Paranoias

La pelos idos de 1968 enquanto os geniais cabeludos de Liverpool gravavam seu "olho-de-boi", o White Album, os quatro componentes da banda compuseram juntos a música Los Paranóias. Sendo que esse é um outro nome dado por Paul aos Fab4. Esta faixa  nunca foi gravada comercialmente e fez parte do cd Anthology 3.

Essa idéia de outro nome para a banda ficou muito legal com "Sargeant Peppers Lonely Hearts Club Band". Mas isso é uma outra história.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Programa Nacional de Estabilização Geral das Pessoas e das Coisas



Era uma vez um Burocrata chamado The Patent. Ele decretou que no seu país tudo seria classificado. Tudo haveria de ter peso e medida.

Construiu um supercomputador que fazia milhões de cálculos de uma vez só, inclusive calculava os cálculos de todos os outros computadores juntos. Contratou outros burocratas como ele, e determinou a toda a população que se dirigisse ao Escritório no Planalto Central para pesar e medir o que tinham.

Filas enormes, requerimentos idem, taxas e carimbos, marcavam na História o glorioso momento de dar-se Peso e Medida a tudo.

E todos traziam todas as coisas. Desde penicos e navalhas de barbear até fornos microondas, passando por charretes e patinetes. E para pesos iguais, códigos iguais; medidas iguais códigos também iguais. E isso é óbvio. Tudo que era visível foi medido e pesado, carimbado e autorizado a existir.

Sim, diga-se isso, pois fiscais rigorosos andavam por todo o país pedindo carimbos e alvarás de existência para tudo. O que não tinha alvará era considerado sem peso e sem medida e era imediatamente destruído, pois transgredia a singela lei de que tudo tem que ter um peso pesável e uma medida medível, caso contrário não existe.

E para aumentar a velocidade de pesar, medir e classificar proliferou no Planalto, cursos para formação de Doutores Pesadores e Medidores. Já nem eram necessários os Aparelhos Dimensionadores Gerais. Os Doutores desenvolveram tantas habilidades que os permitia apenas olhar e já pesar e medir. Esta chave: dois gramas e três centímetros! O balde: oitocentos gramas e 50 centímetros. E assim aumentou-se a velocidade da classificação de tudo e em pouco tempo todas as coisas do país estavam pesadas e medidas.

Agora era apenas manter. E daquele dia em diante tudo que fosse montado em fábricas já sairia pesado, medido e com licença para existir.

Neste momento o burocrata, The Patent,  percebeu que seu Programa Nacional de Estabilização Geral das Pessoas e das Coisas poderia acabar. Ora, se tudo saísse das fábricas já pesado, medido e com licença para existir seu Instituto Nacional de Pesagem e Medição se tornaria inútil.

Teve a idéia! Medir-se-ão e pesar-se-ão também os pensamentos e as palavras. Com esta providencia haveria de garantir a existência de seu Instituto de Pesagem e Medição até o final dos tempos. Pois pessoas não param de nascer, e mais, pessoas não são montadas em fábricas e acrescente-se: pessoas sempre querem mudar de pensamentos e palavras. E por fim a expressão "Pessoas" já estava incluída no titulo de seu Programa.

Foi decretada, pois a obrigatoriedade de todos comparecerem ao Escritório do Planalto Central a fim de receberem os alvarás de seus pensamentos e palavras. Receberiam o CPMPP - Certificado de Peso e Medida de Pensamentos e Palavras - válido por cinco anos e obrigatoriamente renovável.

E para o Escritório do Planalto Central passaram a dirigir-se as pessoas sozinhas, aos pares e em grupos.

Para a Certificação de Peso e Medida dos Pensamentos e Palavras das pessoas sozinhas não havia nenhum problema. O processo era rápido.

Mas para aquelas em pares ou em grupos surgiu um imprevisto. Colocados frente a frente, os indivíduos de um par ou de um grupo traduziam seus pensamentos como, embora iguais no conteúdo, diferentes no sentido. O mesmo acontecia com as palavras: haveria que se considerar tom de voz, circunstancia, nível socioeconômico, grau de relação entre transmissor e receptor e assim por diante e por último, o significado propriamente dito da palavra. Para só depois pesá-la e medi-la.
Diante destas divergências e da conclusão óbvia da necessidade de mudar o Programa Nacional de Estabilização das Pessoas e das Coisas para Implantação Extraordinária e Provisória da Igualdade de Pesos e Medidas das Palavras e dos Pensamentos, os Doutores em Pesos e Medidas fugiram para um convento tibetano.

O supercomputador declarou-se incapaz para essa tarefa e daquele dia em diante dedicaria seu tempo a imprimir desenhos para as crianças colorirem.

O Burocrata, The Patent, mudou-se para uma cidade do interior onde vende sequilhos e bombocados na Praça da Matriz. O tamanho e o peso do saquinho do que vende é a gosto do freguês.

E o povo festejou e dançou durante três dias e meio, jogando para o ar, papel picado que fizeram do Certificado de Pesos e Medidas, comemorando o fim da avaliação das coisas, pensamentos e pessoas! A anarquia transformada em alegria ampla, geral e irrestrita.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Todas as curvas





Praia da Pajuçara - Maceió - AL - set 2008


No meios de tantas curvas pela vida, 

das curvas dos medos ou das cautelas,

das curvas que escondem o deixei lá atrás, 

das curvas misteriosas que não me mostram o que está logo ali adiante, 

das curvas das minhas revisões, 

das curvas dos meus retornos - 

de repente me deparo com curvas que curvam também meus joelhos.